A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2025 (COP 30) foi concluída em 22 de novembro em Belém, Brasil, com o “Texto do Mutirão” – um documento final que reforça os compromissos globais para a ação climática. As negociações não chegaram a um consenso sobre um plano para deter e reverter o desmatamento, mas o movimento para colocar a natureza e as florestas no centro da agenda climática global ganhou impulso.

Apesar das fortes chuvas, inundações, calor intenso e um incêndio elétrico, o FSC® juntou-se a mais de 50.000 participantes de quase 200 países – líderes mundiais, comunidades Indígenas, representantes do setor privado e organizações multilaterais – para defender o papel essencial das florestas e seus guardiões como soluções climáticas.

O FSC Brasil, como parceiro da rede FSC do país anfitrião, desempenhou um papel essencial no engajamento das partes interessadas brasileiras, especialmente o governo, bem como na participação em eventos de alto impacto, incluindo contribuições do Diretor Executivo Elson Fernandes em painéis sobre serviços ecossistêmicos e construção sustentável.

A COP 30 era esperada como a “COP da implementação”, com uma ambiciosa Agenda de Ação – mas ainda há trabalho a ser feito para transformar as ambições em impactos mensuráveis.

O que a COP 30 trouxe para as florestas

Realizada no coração da Amazônia, a COP 30 ressaltou a importância das florestas como elemento central das soluções climáticas e de biodiversidade. Embora o texto final do Mutirão não tenha incluído um roteiro para deter e reverter o desmatamento, a presidência brasileira se comprometeu a criar roteiros tanto para o desmatamento quanto para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, a fim de apoiar a implementação dessas prioridades identificadas no processo de negociação da COP. Mais de 90 países apoiaram a ideia do roteiro para o desmatamento, incluindo 50 nações com florestas tropicais, sinalizando um processo avançado de construção de consenso e abrindo caminho para um possível acordo vinculativo no futuro.

O programa emblemático do Brasil, o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), chegou ao fim da COP 30 com US$ 6,5 bilhões em financiamento público comprometido e apoio global de 53 países, na esperança de atrair investimentos privados adicionais para atingir sua meta de US$ 10 bilhões. O TFFF é uma iniciativa inovadora de parceria público-privada, concebida para atribuir valor econômico aos serviços ecossistêmicos das florestas tropicais.

“O fato de o TFFF destinar um mínimo de 20% aos Povos Indígenas e comunidades locais é mais um passo valioso no reconhecimento de seu papel como os melhores guardiões da natureza. Financiar esses guardiões para que manejem as florestas de forma a proteger o que elas proporcionam deve ser complementado por mudanças nas políticas públicas que ajudem a garantir seus direitos de posse da terra”, afirmou Anand Punja, Diretor de Relações com as Partes Interessadas do FSC.

Além disso, a França e o Gabão lideraram o lançamento da iniciativa “Chamado de Belém para as Florestas da Bacia do Congo”, que visa proteger a segunda maior floresta tropical do mundo e ajudar os países da África Central a eliminar o desmatamento até 2030. A iniciativa busca mobilizar mais de US$ 2,5 bilhões e conta com o apoio de outros países da UE.

Liderança Indígena

A COP 30 destacou a importância da liderança Indígena para a saúde das florestas e a resiliência climática. Os Povos Indígenas tiveram forte visibilidade na COP 30, com mais de 3.000 participantes inscritos na conferência e uma presença marcante nas discussões sobre financiamento, direitos, governança e manejo da terra.

Entre os principais resultados para as comunidades Indígenas, destacam-se a renovação do Compromisso sobre Florestas e Posse da Terra de US$ 1,8 bilhão e o Compromisso Intergovernamental sobre Posse da Terra, que visa reconhecer legalmente e fortalecer os direitos sobre 160 milhões de hectares de terras Indígenas e comunitárias, incluindo 63 milhões de hectares no Brasil. Em 17 de novembro, o governo brasileiro anunciou a demarcação de 10 novas terras Indígenas.

"O FSC tornou-se um dos primeiros mecanismos internacionais a reconhecer os direitos dos Povos Indígenas como um critério obrigatório, e não apenas uma recomendação", afirmou Olga Kostrova, do Povo Chulym, da Rússia, durante um evento paralelo da COP 30.

O FSC integra a liderança Indígena em seus sistemas de governança e implementação globais por meio da Fundação Indígena e do Comitê Permanente dos Povos Indígenas, garantindo que a tomada de decisões sobre o manejo florestal reflita os direitos, o conhecimento e as prioridades das comunidades que salvaguardam as florestas.

Impulso do setor privado

O setor privado demonstrou um reconhecimento crescente de que a natureza é fundamental para a resiliência climática e a estabilidade econômica. A construção em madeira, diretamente ligada ao manejo florestal responsável, foi um tema proeminente em diversos eventos paralelos.

“O Brasil é profundamente afetado pelo desmatamento, e abordar essa questão é urgente para reduzir os impactos das mudanças climáticas em escala global. Nesse contexto, o setor da construção civil desempenha um papel fundamental, principalmente porque os profissionais podem orientar o mercado para caminhos mais sustentáveis, como a compra de madeira certificada que garante rastreabilidade e transparência”, afirmou Elson Fernandes na cerimônia de entrega do Green Solutions Awards na COP 30.

Sharon London, Diretora de Parcerias da FSC Investments & Partnerships, destacou outro mercado em entrevista à Nature 4 Climate: “O FSC tem trabalhado com muitos pequenos produtores de borracha, principalmente no Sudeste Asiático. Esses pequenos produtores, ao se unirem e trabalharem com grupos como a Pirelli Tyre, conseguem levar seu produto natural ao mercado. E isso está inspirando outras empresas, como Nike, Adidas e Birkenstock, a ingressarem no mundo da borracha natural.”

Esses exemplos refletem o interesse crescente em produtos florestais sustentáveis ​​e o papel prático que a certificação FSC desempenha no apoio a cadeias de suprimentos responsáveis ​​que contribuem para soluções climáticas.

Visibilidade crescente do FSC como defensor das florestas e de seus guardiões 

Ao longo da COP 30, o FSC organizou e participou de pavilhões importantes, como o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, e de diversos painéis influentes e entrevistas para engajar atores multissetoriais com a mensagem: as florestas e seus guardiões são fundamentais para as soluções climáticas.

Garo Batmanian, Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro, compartilhou uma mensagem semelhante durante a sessão do FSC sobre bioeconomia no Fórum das Nações Unidas sobre Florestas: “A floresta em pé tem valor”.

Na inauguração oficial do Pavilhão das Florestas, a Diretora-Geral do FSC, Subhra Bhattacharjee, preparou o terreno para a ação colaborativa em prol do manejo florestal sustentável: “A COP30 – a COP das florestas, a COP da Verdade – precisa de todo o poder e da engenhosidade do setor privado, de atores não governamentais e das comunidades para complementar as políticas públicas e alcançar nossos objetivos comuns. A certificação de práticas de manejo florestal sustentável pode ser um multiplicador de esforços, na presença de leis e políticas robustas.”

Na Cúpula Mundial do Clima e da Biodiversidade, durante a COP30, ela refletiu sobre a governança e a liderança compartilhada do FSC. “A governança tem um impacto desproporcional nos resultados do desenvolvimento. Fortalecer a governança torna todas as outras iniciativas mais eficazes. E quando os direitos dos guardiões florestais são formalmente reconhecidos e incorporados às instituições, os resultados se tornam mais sólidos e sustentáveis. Povos Indígenas, trabalhadores e comunidades locais são os guardiões originais das florestas – empoderem estes atores e as florestas prosperarão”, acrescentou.

Entre outros eventos importantes, o FSC também contribuiu para o Dia da Restauração, evento emblemático da COP30, onde Anand Punja, Diretor de Relações com as Partes Interessadas, enfatizou como altos padrões de integridade e uma governança sólida podem acelerar o financiamento da restauração e gerar impacto em larga escala.

O que esperar daqui para frente

A COP 30 trouxe avanços importantes, mas não o forte apoio político necessário para acelerar as metas climáticas e de biodiversidade e eliminar o desmatamento.

“O progresso real dependerá da colaboração entre governos, empresas e comunidades dentro e além do processo da ONU para reduzir a perda florestal na prática, e é nisso que continuamos focados”, afirmou Subhra Bhattacharjee.

A comunidade global muda seu foco da Amazônia para Antalya, na Turquia, onde a COP 31 acontecerá sob a presidência da Austrália. O próximo ano será crucial para transformar os roteiros e compromissos da COP 30 em resultados tangíveis. O sistema de manejo florestal responsável do FSC oferece uma estrutura prática e confiável para ajudar a alcançar esses objetivos, apoiando os guardiões florestais, fortalecendo as cadeias de suprimentos florestais sustentáveis ​​e restaurando florestas degradadas.

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