Como diretor geral, um dos meus principais papéis é ajudar no aprimoramento de padrões do FSC, para que representem os problemas e discussões atuais. Evidentemente, essas questões variam em função do país e da região. Por isto, ao invés de implantar um conjunto de regras para o mundo todo, nós permitimos que cada país chegue a um acordo de como interpretar e usar nossas regras nacionalmente. É um processo que inevitavelmente levanta debates, mas isto é algo que eu considero vital para o crescimento do FSC como organização.

Em nenhum lugar esse processo é tão bem demonstrado como no Canadá, onde estive algumas vezes nos últimos meses. Somente no Canadá encontra-se um terço de todas as florestas certificadas pelo FSC, o que por si só consideramos muito importante. No entanto, são os debates que acontecem aqui que fazem o país particularmente interessante. Enquanto o Canadá compartilha problemas que muitas empresas de manejo florestal enfrentam, a forma como o país lida com tudo isso é única e eu acredito que estabeleça um padrão para prática do manejo florestal de forma responsável no futuro.

Discutindo questões locais

Ano passado nós lançamos o primeiro texto dos Indicadores Genéricos Internacionais, que é o nosso apoio para os países decidirem como desenvolver seus próprios padrões nacionais. Assim que nós apresentamos o texto ao Canadá, um grande número de parceiros começou a compartilhar suas opiniões.

Por um lado, nós temos os grupos indígenas das florestas do Canadá, que estão pedindo que o FSC garanta voz ativa para seus diferentes povos que vivem nas florestas. Isso permitirá a eles acesso aos recursos e possibilitará que eles vivam na terra de seus ancestrais, enquanto mantém e desenvolvem sua cultura e valores espirituais.

Ao mesmo tempo, organizações voltadas ao meio-ambiente exigem que nossas normas forneçam forte proteção para espécies em extinção no Canadá, particularmente aos alces.

Temos também as empresas de manejo florestal, que querem entender como elas serão capazes de extrair madeira suficiente para manter as indústrias e os empregos a elas relacionados. E quem está perguntando o que será necessário para atender aos nossos padrões, especialmente se grupos indígenas ou organizações de meio ambiente impuserem limitações nas florestas em áreas diversas?

Acima de tudo isso está o governo canadense, que detém o domínio das florestas no Canadá e somente libera terra como concessão. Para começar quaisquer atividades florestais, você precisa obter autorização do governo.

Finalmente, nós temos a ONU, que propôs uma declaração aos direitos dos Povos Indígenas, a qual inclui requerimentos para Consentimento Livre Prévio Informado. Esse é um conceito que objetiva certificar que os Povos Indígenas têm algo a dizer sobre o que acontece na terra que habitam, antes que ações de manejo florestal aconteçam. Isso abre as portas para que uma porção de debates aconteçam.

Alcançando uma resposta coletiva

Como o Canadá responde a essas questões? Você seria perdoado em pensar que as coisas migrariam para discussões caóticas entre todas as partes interessadas e/ou afetadas. No Canadá, nós vemos quase todas as partes interessadas e/ou afetadas se reunindo para alcançar soluções construtivas. Nós também vemos governos criando iniciativas positivas, como o “plano do alce” que foi recentemente lançado pelo governo da província de Quebec. Isso fornece um ótimo apoio para discussões entre todas as partes interessadas e/ou afetadas que dependem da floresta, sejam eles uniões, ONGs, governo, grupos indígenas ou empresas de manejo florestal.

Neste processo, a preocupação de todos os grupos são discutidas de forma igualitária. Nós recebemos perto de 500 páginas de comentários para o primeiro texto dos novos padrões canadenses FSC de Manejo Florestal. Baseado nisso, nós agora estabeleceremos uma próxima fase consultiva que tem por objetivo acordar o novo padrão nacional do Canadá. Nós teremos mais discussões em relação aos diferentes interesses e organizaremos testes de campo, para nos ajudar a entender cada medida proposta em relação ao novo padrão.

Evidentemente, este é um longo e denso modelo de trabalho para alcançar padrões nacionais. Para mim, é a maneira direta para alcançar entendimento em um padrão ambicioso e vanguardista, que definirá o manejo florestal canadense para o século XXI. As partes interessadas e/ou afetadas podem participar deste processo. Manter florestas produtivas e saudáveis para o benefício das pessoas ao redor do mundo é a nossa verdadeira missão, e nós estamos aqui para lembrar todas as pessoas disso. Mantenha os objetivos em mente, e os passos para chegar lá se tornarão muito mais fáceis.

Ao trazer todos os grupos canadenses para uma mesma conversa, honesta, eu estou certo de que providenciaremos um padrão nacional aplicável. E isso será mais do que uma vitória nacional, porque em uma escala global, o que nós acordarmos no Canadá pode ser uma inspiração para todo o FSC. Usar a democracia como nossa ferramenta para trabalhar essas questões é nosso dever e fazer o processo de trabalho efetivo. O Canadá pode se tornar um modelo para todos nós, se tornando uma liderança para o manejo florestal do futuro.