Por incrível que pareça, em pleno século 21, ainda tem gente que acredita que a conservação das florestas é incompatível com sua exploração, mas o manejo florestal responsável é um caminho possível, eficiente e mais do que real. Um exemplo disso são os produtos da sociobiodiversidade, que vêm da natureza e ajudam na criação de cadeias produtivas de povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares.

Neste conceito, a diversidade, a cultura e as melhores práticas de manejo estão alinhadas, formando uma rede sustentável que é ambiental, social e economicamente viável. Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o FSC Brasil destaca produtos de sua sociobiodiversidade não como uma forma de produção para o futuro, mas do presente.

No Brasil, a madeira em seu estado bruto ocupou a 106º colocação no ranking de exportações do país, sendo a China, Índia, Portugal, Vietnã e Estados Unidos os principais destinos do produto brasileiro em 2021, segundo o site de estatísticas de exportação comercial ComexVis. Mas as florestas vão muito além dela. E o FSC Brasil têm percebido, principalmente, nos últimos dez anos, uma maior diversidade. Nesse período, o aumento da área total certificada foi de 24%, enquanto o número de certificados de manejo avançou 84%, o que indica um incremento de áreas menores e, em boa parte, também de produtos não madeireiros, como óleos, frutos, serviços ecossistêmicos e subprodutos da madeira, como a lignina e licor negro.

No começo deste ano, por exemplo, a Associação Agroextrativista das Comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, no Amazonas, recebeu o selo FSC para Manejo Florestal e Cadeia de Custódia. A certificação inclui uma área de produção de 44 mil hectares e contempla produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, como uma linha com seis óleos essenciais fixos e objetos de madeira. A expectativa é de que, a partir de agora, os produtos alcancem novos mercados, com um retorno econômico mais interessante.

A ideia é trazer este debate entre especialistas em manejo e sistemas de certificação cada vez mais perto dos setores privado e público, para fomentar tanto a produção quanto o consumo de produtos florestais de origem responsável, e manejados com as melhores práticas ambientais, sociais e econômicas” diz Daniela Vilela, Diretora executiva do FSC Brasil.

Outros dois exemplos interessantes estão diretamente ligados à proibição da exploração de madeira. A extração de madeira é considera ilegal em terras indígenas, com raras exceções, e fontes alternativas de renda, como a exploração de castanhas, podem ajudar esses povos a se manterem em seus territórios e preservarem a riqueza que existe neles. É isso que acontece na Associação Soenama e na Cooperativa Garah Itxa, de comunidades indígenas Paiter Suruí da Terra Sete de Setembro, em Cacoal, Rondônia. Um dos principais objetivos de conquistar o selo era, justamente, valorizar esse produto, mostrando que é oriundo de uma fonte responsável e de qualidade.

A mesma diversificação deve acontecer, também, em áreas de Mata Atlântica. E ali, entre os diversos produtos não madeireiros que existem, tem a erva mate. No Rio Grande do Sul, no município de Putinga, o agricultor Eduardo Guadagnin, dono da Ervateira Putinguense, recebeu uma das primeiras certificações FSC de produto não madeireiro no Brasil, em 2003. Hoje, quem toca a operação é a filha dele, Micheli, e a produção gira em torno de 2,3 toneladas por mês de erva mate pronta.   

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia movimenta no mercado mundial 2 trilhões de Euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. Segundo os especialistas, ela responderá, até 2030, por 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) dos seus países membros. No Brasil, que guarda o maior remanescente de floresta tropical do mundo, esse percentual tem tudo para ser ainda maior. Falar, portanto, da conservação não como fato isolado, mas motor do desenvolvimento sustentável, é fundamental para abrir caminhos e desencadear melhores e maiores resultados para todos.